quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O peso da alienação


Na complexa busca da felicidade, somos obrigados a vestir a camisa de força da ignorância e da alienação, criando com isso, maneiras de nos submeter a algo ou a outro, na intenção de encontrar o que nos completa. Não se reconhecer como sujeito social, político, histórico e como agente e criador da realidade, é o principal sintoma para saber – você leitor – se é um alienado social, econômico, político e intelectual.

Nos dias de hoje, é comum ouvir frases do tipo: “Você é alienado”, “a mídia é alienadora”, “fulano vota em ciclano porque é alienado”. Mas o que de fato é alienação? Alguém nos aliena? Ou nos alienamos? Para compreender o fenômeno da alienação, temos que entender o modo como a sociedade se desenvolve, e como ela se comporta. A alienação é o processo pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a essa coisa como se ela existisse por si mesma, deixam-se governar por ela como se ela tivesse poder, não se reconhecem na obra que criaram, fazendo-a outro ser, separado dos “comuns”, superior a eles e com poder sobre eles. Os homens se esquecem de que foram os criadores desse “outro” ser. Em latim, “outro” se diz alienus. Segundo o filósofo Feuerbach, quando os homens não se reconhecem num outro que eles mesmos criaram, eles se alienam, por isso o nome de alienação.

Na sociedade capitalista existem várias formas de alienação: a alienação social, a intelectual, a política, a econômica e até a religiosa. Esses diversos tipos são conseqüência do desenvolvimento da sociedade e das instituições das relações sociais, no decorrer da história. Como por exemplo, o surgimento da família, com a divisão social do trabalho, onde na luta pela sobrevivência os seres humanos se agrupam para explorar os recursos naturais e dividem as tarefas. Com o surgimento do comércio, denotado pela troca entre as famílias dos produtos do trabalho. Com o surgimento do trabalho servil, que logo dará origem a escravidão. Com o surgimento do poder político, do qual virá o Estado e demais formas de governo. E por fim, com o surgimento da religião e da guerra. Esses conceitos caem como uma luva às teorias do filósofo Karl Marx que, observou que em todas as sociedades, uma parte detém poder e riqueza, enquanto outra parte não possui nada disso, estando subjugada à outra parte rica e poderosa. Está aí um ponto onde eu queria chegar, leitor! A constatação dessa alienação é o desconhecimento das condições histórico-político-sociais em que vivemos e que são produzidas pela ação humana.

Alguns tipos de alienação estão constantes em nossas vidas, como a econômica e a religiosa. Muitas vezes somos obrigados a nos submeter a alguns conceitos e crenças, e a repugnar outras. Como por exemplo, o caso do Pastor norte-americano que, recentemente, em nome de uma crença e repúdio a outra, ameaçou destruir o livro sagrado de outra religião. Aí eu lhe pergunto leitor: Em nome de quem ele faria isso? De Deus? Claro não. Deus não manda insultar e desrespeitar o próximo, por mais que existam diferenças gritantes. Mas é em nome de um ego alienado, que cega o ser humano, e não o faz perceber o quão submisso ele é a uma crença que mesmo criou. Em nossa sociedade, a alienação econômica decorre da transformação de seres humanos em coisas, isto é, da transformação de uma classe social – os trabalhadores – em mercadoria, e como toda mercadoria, recebem um preço, quer dizer, um salário. Os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas. Em outras palavras, produzem alimentos e objetos de consumo que com o salário que recebem não dá para adquirir quase nada, e não lhe passam pela cabeça que foram eles, trabalhadores, quem produziram tudo aquilo com o suor do seu trabalho, e que só não podem adquirir esses produtos porque o preço é muito mais alto do que o preço deles, isto é, dos seus salários.

E por conta do período eleitoral, não podemos esquecer-nos da alienação política, em que vemos no outro (político), alguém superior a nós, esquecendo que o processo democrático somos nós que fazemos, e que as pessoas que vamos eleger se eleitas, nos devem prestar serviços e contas ao qual foram empregadas.

Portanto, cabe salientar que, o alienador e o alienado é você mesmo, ou melhor, ninguém te aliena, você próprio causa isso. O que a mídia, políticos, formadores de opinião e o próprio capitalismo fazem, é persuadi-lo, induzi-lo a alienação. Entretanto, saiba que você é sujeito causador/transformador da realidade, e que se a sociedade está alienada, é porque, historicamente permitimos. Portanto, vamos acordar e nos reconhecer como sujeitos sociais e políticos, modificando a sociedade e criando uma nova realidade. E quer um conselho? Vamos começar por estas eleições.

Um comentário:

  1. Gostei do seu artigo, muito bom.
    Não sabia dessa definição de alienação!

    ResponderExcluir